terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pessoas Instigantes

Elas são notáveis. É gente como a gente, mas são muito mais gente.
São pessoas que te atraem, pelo olhar e pela inteligência – sem querer - aparente.

- Ah me conte, quem é você?
- Como quem sou eu, Rachel? Eu sou eu, você já conhece.
- Não. Não pode ser, você é mais que isso, muito mais!

Cresci – e assim como você – admirei alguém. Talvez fosse o mistério da casa – que eu invadia todas as tardes ensaiando teatros e pianando. Talvez fosse o mistério dos quartos. Um escuro, com guarda-roupa abarrotado de fantasias, sapatos, com baús e penduricalhos. Outro já simples. Clean e multicultural, cheio de CDs e um berimbau.

Era tudo inspirador.

A amizade surgiu primeiro com ela. Mais velha do que meus nove anos, cuidava de mim. Me levou aos passeios de ônibus. Eu era sua assistente de bicos, cheia de orgulho puro! Ah, ela era minha amiga. Isso eu repetia sempre, fazia questão – ora para meu interior ora para meus amigos, que estavam longe de conhecer alguém assim... Ela saía com a máquina fotográfica, registrava as coisas, o mundo, as pessoas. Era belíssimo ela achava tudo lindo. A luz, o ar, o parque, o pirulito. Assim eu comecei a ver tudo lindo também! Inspirei-me nessa moça, que foi de gótica, hippie, zen, espiritual à perua atual. Country não me lembro, mas é provável que também tenha experimentado ser. Inspirei-me em seus cadernos sem linhas, nos seus desenhos, no seu inglês, no seu ar importante. Inspirei-me na sua oratória instigante. Era capaz de explicar qualquer coisa, até o que não sabia! Bela, maquiada, (já relatei neste espaço o quanto admiro as pessoas maquiadas, se não lembra leia aqui!) de salto, unhas feitas, colorida, era mulher. Inspirei-me nela profundamente e talvez por isso eu tenha virado isso.
Sonhava em sonhos mil. Cantar, atuar, tocar. Mas ela não fazia nada disso, ela lia. E eu li. As inspirações foram outras, a música é outra, mas cresci buscando enchê-la de orgulho sempre e, para que ao olhar para mim e ouvir:

- Eu procurei ser você e me achei, assim: brasileira apaixonada!

Sentisse e pensasse:

- É cria minha!


O outro quarto? Ah, lá tinha um moço. Belo e de cachos! Não sai com ele para nada aos meus nove anos – e nem agora aos 21. Nunca precisou haver um diálogo se quer, eu sabia que ele era inteligentíssimo! Não o conheço profundamente, nem superficialmente, mas eu sei que um dia vou ser apta a conversar com ele. O moço me inspirou por sua intelectualidade moderna, não era chato, bitolado, nerd. Era belo, estiloso e mentalmente capaz de qualquer coisa. Claro que tudo o que digo hoje são as minhas impressões infantis, que formei aos nove anos e as mantive até hoje – coisa que não me arrependo. Sabe aquela pessoa que você vê em um metrô abarrotado de longe e pensa: ''Poxa, será um dia terei um amigo assim? Gostaria de conversar com ele". É, o moço de cachos é assim. Um dia eu sei que chego lá. Vou poder – talvez nos meus 70 anos – conversar com ele, nem que seja sobre a cor do céu em dia chuvoso.



** Inspirei-me é claro, ao brincar de novo com ela! Dessa vez de ser menina, pintar e cortar!

Um comentário:

alex disse...

A menina dos espelhos e dos olhos vivos.

Me veio o verbo Descobrir.

Cada palavra tua no seu exato lugar! Até ocupando o mesmo espaço ao mesmo tempo, algo permitido de se fazer só mesmo a quem tem a virtude da escrita. Todo lugar que antes era espaço vazio foi preenchido por elas, me fazendo descobrir não o teu texto - que já conhecia deste próprio blog mas agradeço a lembrança - porém a descobrir um pouco mais do teu estilo que, como todo estilo, se desenha e se desenvolve de acordo com o tempo e a vida. Cresce na mesma medida que cresce quem o tem e pratica. Coisas do estilo.

Mas descobri também o que antes era uma impressão interna sua. Que no momento do rebento da sua virtude que é a escrita (ao menos uma delas), ao seu estilo me mostrou a ponte que nos une! Me transportou pra dentro dos seus 9 anos e vi aquela então menininha com um espelho na mão mirado pra mim.

A menina dos espelhos. E apontava também para a moça irmã, que ao ler agora também deve estar se descobrindo um pouco mais.

E o menino de cachos lembra. Descobrir é exatamente o ato de tirar o que antes naturalmente cobria. E quem não sente o sabor disso talvez deva se descobrir mais. Você nos ajuda nisso.

Mas ele ficou também pensando na coisa da idade. Aos 9 anos dela, ele, que nunca teve cabeça pra datas, tinha alguma idade a mais. Não importa qual idade. Ah sim, lembra que na cabeça tinha cachos. Memória visual. Mas voltando, a coisa da idade intrigou porque penso que somos todos uma grande família. Então os que chegam antes só tem a mais um pouco da idade, mas dalí alguns anos, a um certo ponto, todas se equiparam.
E aí andamos paralelos. E essa troca de impressões ganha o requinte e o frescor de serem atemporais.

Hoje sim, eu posso te escrever as impressões de um garoto de cachos que também tinha alguns anos a menos do que tem hoje.

Ele entendia aquela menina interessada e viva como a menina que vivia logo ali, apenas alguns andares abaixo. Estava sempre por perto e quando finalmente aparecia era como um imã que pedia de nós - por atração - a inteligência que ela queria e merecia. Transformava a casa, os quartos, o piano, a sala, tudo. Seus olhos vivos sempre trouxeram luz e lembravam (a quem fosse de ver) que viver é mesmo bom demais. Sempre foi interessada e, por isso mesmo, interessante. Hoje e amanhã continuamos os mesmos, só que diferentes.

O menino de cachos não é muito de reagir na hora, é inteligente sim, graças aos seus ancestrais e aos nutrientes que seus pais o deram, mas é meio que lerdo também (isso por conta própria mesmo)! Tem gente que é movido a pé na bunda, sempre no bom sentido. Já disseram que é traço de Capricorniano ou de Filho de Oxalá. Va bene...

E daí que é claro que um dia o menino dos cachos e a menina dos olhos vivos vão conversar! O tempo e as afinidades nos permitem ter chegado todos aonde chegamos e como chegamos. E se não somos nós mesmo quem nos orientamos, então não sei de mais nada.

Estas palavras já são essa conversa. Aliás você presenteia a todos com seu estilo e quando faz isso saiba que seus anjos batem as asas de alegria imensa.

"Deus nos vê praticar as virtudes que nos foram dadas."

Simplesmente amo essa frase e a maneira como ela é composta. Pense nela com carinho. Só pelo prazer frugal de pensar, vale a pena! É meu presente retribuído à menina dos olhos vivos.

Presente com toda a sinceridade que é natural de um texto escrito numa terça-feira à tarde.

Acabei de olhar num espelho que ainda não tinha olhado e fiquei muito feliz. Também porque os cachos continuam ali firmes e fortes.

E se já trombou com o menino no metrô, então tem um grande amigo assim.