Era no tempo da delicadeza. Flutuava pelas horas, como se nada houvesse, nada prendesse. Era tempo de quintal. Jogava água e bola. Fingia ser de tudo. Era amiga do rei! Talvez fosse a mulher, mas de inocente não sabia. Gostava de sorvete. Dessa infância mágica carregava tudo o que via, não queria perder nada, porque mesmo nada era só alegria. Desde tempos aprendeu a sentir. Sentia raiva da fome. Preguiça do sono - do banho. Sentia amor pelos irmãos - que eram os mesmos que odiava tantas vezes... sem saber, aprendeu assim o equilíbrio do amor. Sentia dor por chutar o pé no chão. Sentia dor quando gargalhava de alegria, descobriu assim que tudo doía, bem lá! E assim cresceu. Carregando tudo o que aparecia, e sentindo tudo lá dentro, como se tudo que sentisse fosse sempre urgente, sempre útil e necessário. Encheu uma caixa, só de sonhos e sentimentos. Sentiu tanto, que na era da dureza, não consegue não sentir... e sente saudades, que muitas vezes misturam arrependimentos... e sente também aquelas vontades duras de chorar tudo, esquecer tudo e nunca se virar para trás... ah, se fosse fácil. Descobriu que não dá. Agora espera por uma nova época, futura que o vento vem trazendo, onde vai entender o que aprendeu por tanto moer-se.