quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Como tudo começou

Decidi passar a limpo meus cadernos poéticos da infância. Neles escrevia de tudo: poesias, músicas, era uma espécie de diário - sem data fixa - das coisas que me interessavam.
Nas lembranças achei muitas coisas bobas, mas algumas que me fizeram rir – e muito.
Segue abaixo uma passagem (duas na verdade) de como o meu escritor favorito se tornou O favorito.
A leitura vale a pena!

Hoje vou ler igual gente grande! (escrito dia 5 de julho de 1998)
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Meu velho irmão não para de estudar. Não que ele seja velho, mas de todos é o que nasceu primeiro. Agora ele comprou um livro que seu professor disse ser bom. Chama "Ensaio Sobre a Cegueira", peguei emprestado para ver qual é a história. Se eu gostar escrevo mais.


* É claro que muitos detalhes da leitura com certeza passaram à época. A pureza dos meus onze anos não compreendeu muito do que viria a ser meu livro de cabeceira. Mas, definitivamente, aquela leitura me instigou.


07/09/98
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Aquele livro (Ensaio Sobre a Cegueira) tem alguma coisa muito boa sim! E tão difícil... Mas já li! Minhas partes favoritas são:
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"A gente, disse no tom de quem sorri de si próprio, habitua-se tanto a ter olhos, que ainda julga que os pode usar quando já não lhe servem de nada"
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"Ora, é dos livros, mas muito mais da experiência vivida, que quem madruga por gosto ou quem por necessidade teve de madrugar, tolera mal que outros, na sua presença, continuem a dormir à perna solta, e com dobrada razão no caso de que estamos falando, porque há. uma grande diferença entre um cego que esteja a dormir e um cego a quem não serviu de nada ter aberto os olhos".
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"O ponteiro de sintonização continuava a extrair ruídos da pequena caixa, depois fixou-se, era uma canção, uma canção sem importância, mas os cegos foram-se aproximando, devagar, não se empurraram, paravam logo que sentiam uma presença a sua frente e ali se deixavam ficar, a ouvir, com os olhos muito abertos na direcção da voz que cantava, alguns choravam, como provavelmente só os cegos podem chorar, as lágrimas correndo simplesmente como de uma fonte".
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Descobri também que pode escrever palavrão nos livros! Tem uma parte que ele escreve merda! Achei bem engraçado.


Dezembro de 1998:

Estou muito feliz, hoje começo a ler "Memorial do Convento", do mesmo escritor do livro que eu gostei muito.


Bom... o resto não preciso escrever, não é?

Aconselho, intimo e desejo que você leia não apenas os dois primeiros que fizeram parte da minha vida, mas a obra inteira desse escritor magnífico, que tocou até a alma pueril de um serzinho aos onze anos de idade...

José Saramago

2 comentários:

Carou disse...

você é prodígio, então? ahahah! eu queria muito achar meus diariozinhos, mas acho que joguei no lixo.. certamente, eu ia chorar de rir!

Anônimo disse...

Joguei fora todos os meus diários, hoje me arrependo, rs.
Não consigo ler Saramago.

Um beijo.