quinta-feira, 31 de julho de 2008

Retrato

Deitados na rede:
eu, você o violão.
Nada em mente,
só uma canção.

Você tocava,
eu sorria e
nós cantávamos
a velha cantiga...

Nessa ilha,
nesse chalezinho,
nessa rede,
nesse mundinho.

Ah, o tempo parou!
Sem nem sentirmos
a máquina clicou.

O retratinho?
Guardo hoje
com carinho.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ciano e magenta

Celeste
Marinho
Royal
Turquesa
Calcinha
Bebê

Céu
Sangue
Mar
Olhos
Gralha
Baleia

Um brinde:
à cor do Caprichoso,
à cor da calmaria,
à cor dessa menina.

terça-feira, 29 de julho de 2008

É praia

Primeiro areia branca,
quente.
o pé pula
na fofa
até chegar na
areia dura,
ambiente.

Pare,
ouça.
A maré tá calma,
o som tá doce.

Mais a frente
areia úmida,
escura.
O pé afunda,
a marola bate.
Depois areia
molhada,
misturada.
Envolve o corpo
que nem a sente.

Ah...
Deite,
ande,
nade...
é praia,
relaxe.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Nãná

Feche os olhos benzinho,
que não há ninguém.
Ouça a cantiga
que vem com o ar...
é passarinho
na janela
a cantar.

Sonhe benzinho,
estás sozinho.
Ouça seus desejos
porque logo irás acordar
é sol
na janela
a raiar.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Fim

- Vai sair assim, na minha cara, acompanhada?
- Por quê? Decidiu ficar?
- Não. Eu tenho que ir.
- Você tem que partir... e eu ficar.
- O que quer que eu faça?
- Nada. Dois meses bastaram.

Ficou marcada:
A paixão,
a despedida,
a perda.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Se perde não Maria!

Vamos, vamos, a festa será boa!
Show do grupo, vai ser animado!

22h - Maria chega ao local.
Espaço grande, bonito, ainda vazio.
Pegam uma mesa, a música ambiente (put put put put) começa a machucar a cabeça de Maria.
- Um uísque, por favor!
A bebida sagrada lhe é servida em copo plástico - pecado.

1h - (Maria agüentou?)
Casa lotada!
As pessoas (meninas de shorts e moços de regatas - era inverno) se esbarram, suam, perdem a compostura e dançam passos que parecem pertencer a um ritual – desses de animais. Alguns se encontram em meio ao passo e acabam se beijando, mas logo cada um segue seu rumo, em busca de outra troca de salivas.

2h - a banda entra no palco, um ‘pagode’ que dói!
Músicas que falam de amores imaturos, coisas bestas, ritmo chato, como Maria ainda vive... Leva três cotoveladas nas costas! É tem casal dançando na pista... mesmo sem espaço, eles nem ligam.

3h30 - a banda sai.
Os amigos de Maria não querem partir...
A música muda. Agora é ‘sertanejo com funk’... ah... Maria.

4h - Maria e seu bem dormem no carro a espera de seus amigos.

5h - Maria acorda de susto.
Não basta a noite, a dor de cabeça e garganta inflamada, há briga no estacionamento. Menina com o namorado da irmã... que coisa feia.

5h10 - Maria não agüenta.
Liga, liga, liga.
Todos entram no carro.

5h30 - Maria acha o caminho de casa.

Se perde não Maria!!!

* nada contra os ritmos citados. Música é música, se bem feita (seja funk, sertanejo ou pagode) respeitada.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Vamos falar de música...

... mais uma vez!

Estou atônita desde quarta-feira. Nada consegui escrever.
Fui me arriscar na ida de um show: Três vozes e uma canção.
Três vozes, das quais só conhecia uma, e três novos compositores, dos quais muito pouco, até então, tinha ouvido.
Que belíssima surpresa.
Em um botequim com duas garrafas de cerveja (fechadas) à mesa, muita água e um violão, Isabela Moraes, Jana Figarella e Paulo Neto mostraram, através de suas composições e interpretações únicas, o que há de novo e belo na nossa música.
A apresentação mescla suavidade, romantismo, boêmia e samba. Tudo o que desejo a todos nessa vida.
Vale à pena caçar a agenda de shows dessa trupe!

** Desculpem a falta de inspiração nesses últimos dias, mas dediquei meu tempo - após esse encontro - ouvindo e revendo poesias das quais não chego nem aos pés.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

É dia

Hoje é tempo de paz,
alegria demais,
tristeza
deixe pra trás.

Quero ficar
de bobeira,
não importa que seja
manhã de feira.

Na na na, nana, nã
Na na na, nana, nã
Na na na, nananã...

Qualquer dia é dia
de cair na folia e,
sem rebeldia,
vire um copo a mais.

Quero rodar
no salão
gafieira e baião,
não importa o mais.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Mas há

Deixe de pensar.
O que eu quero é
falar de boa,
sorrir à toa,
te contemplar.

Deixe-me calar.
O que eu quero é
silêncio puro,
pouco sussurro,
silenciar.

Deixe isso passar.
Não há vento,
nem há relento,
mas há um dia que
isso vai mudar.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Gata fera

O que me fizeste?
Disseste o inapropriado,
mostraste-me o que é pecado.
Que tristeza, que maldade,
mas tu serás enterrado!
Sem coroa nem aplauso

Cuidado!

A gata virou fera...
Gata fera
Fera bela
Bela gata


Medo não há mais!
Se ferida – vinga,
se bem tratada -
não corre atrás.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sem fim

O amor é coisa infinda. Uma vez flechado não há como fugir. Difícil não é conviver com muitos amores – uma vez que um amor só se extingue com o esquecimento total, de existência e tempo, todas as paixões existentes vão preencher o seu coração durante toda a vida. Até que um veneno mnemônico transpasse suas veias e apague todas as lembranças com esse alguém distante, retidas em um passado infindo... Esse amor não será extinto - difícil é ter que amar um coração que, por história, já possuí amores acumulados. Não há remédio nem saída, o amor é o sentimento sem fim. Marca certeiro, no fundo. Volta à memória sem notas ou avisos. Permanece lá. Sombra que te segue até que você a deixe ficar só, em algum lugar.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Promoção

Ah que lambança,
que dia estranho,
tudo caminhando
e ainda me falta.

Que tormento,
angústia, rodeio.
Se te aceito me escravizo
Se te deixo me ironizo.

Por onde ir?
Foi uma oportunidade
ou mais uma ilusão?
Sonho em vão...

Que lembrança...
Não sabia o que queria,
mas isso quando crescer
não serei nem a pau!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Esquece...

Ela encontra Ele.
A partir daí...
esquece as ruas, as luzes,
as falas, os bares, os parques,
esquece o tempo e a cidade.
São os dois e
tudo o que precisam:
um sofá.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Literalmente perfeito

Acordar e ver:

Suas quatro pernas
entrelaçadas,
permutadas.
Seus quatro braços.
Dois lhe parecem fugir,
alongados para o outro lado
abraçados ao seu segundo tronco.
Os outros dois
também seguem juntos,
mas te seguram firme,
te agarram.

Olhar para o seu outro corpo
é o que te torna assim
distinta.

Ao amanhecer.
- ou ao entardecer –
Ao anoitecer.

Olhar-te completa
olhar:

os olhos fechados,
o rosto amassado,
a sobrancelha despenteada,
a boca rosada, linda,
ainda que seca,
o cabelo bagunçado,
e todos os outros pormenores
desse corpo, desse duo.

É o sentido literal
do momento perfeito.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Beco sem saída

A lua sobe
a música envolve

- mais uma dose!

a angústia cresce
de que vale
viver encolhida?
Que idéia é essa?
Fórmula de viver
sempre fingida.

- mais uma dose!

a gargalhada fica fácil
o sangue esquenta,
a voz fica alta,
fala mole.
Antes retraída,
agora ...

- mais uma dose!

fala, fala, fala...
Discursa filosofias:
'o mundo me condena'
que se exploda então!
chuta o balde,
quebra o bar,

- mais uma dose!

Segue caída.

domingo, 6 de julho de 2008

Cafezinho

Bem distante havia uma casinha. Era tão longe quanto linda. No caminho tantas pedras, o caminhar doía! Então João carregava Maria. Na chegada já sentia-se o cheiro, a cada passo ele ia se tornando mais forte. O calor do fogão à lenha preenchia o ambiente e a viagem valia a pena, pois o café da Dona Hilda já jazia na chaleira. Era tudo tão charmoso. O café, o açúcar mascavo, as histórias... E só isso ainda era pouco. Havia a cidade. Um vilarejo rodeava a casinha. Eram tantas cores, sempre acompanhadas da branca! E havia a maresia, a melodia, os poemas de Drummond, a nostalgia. A cada passo se cruzava com um livro, uma música e um amor. Ainda era possível ver o mar, se banhar e voltar, para mais um cafezinho. Ah, que casinha.