quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Manias

Acordava sempre assim, tinha ainda dez horas das quais queria dormir. Era de uma preguiça invejável, daquela manhosa, gostosa, mas levantava cedo. Alongava até a alma para sair da cama. Os braços ficavam maiores, as pernas se moviam por todos os cantos, todos os lados, cada uma por si. A boca? Esta engolia o mundo! Mexia os lábios como em novela mexicana, não havia palavra, apenas gestos e expressões silenciosas de quando o sol está nascendo. Assim também eram suas mãos. Seus dedos se alongavam como em uma dança, mexiam, brincavam entre os filetes de luz e sombras que saltavam à janela - através dos tecidos roxos e verdes - enfeitavam os gestos pesados de um corpo relutante. Apesar de tanto bailar e se esfregar contra um colchão tão macio, largava-o assim: sem ninguém a lhe amaciar; e pensava: Seria bom ter um par, não te deixaria assim pela manhã, frio de tão só. A Testemunha acima ria da pseudo-caridade. Para fugir do sono encharcava o rosto, a água era tanta que a forçava a cerrar os olhos – e ai sonhava mais uma vez. Fingia que a cama não estava mais lá; que saiu do ressinto por medo de acamar com tanta preguiça. Esfregava os dentes, passava a lavanda. Vestia-se de branco aos tons pastéis, sandália de meio salto – para ganhar dois centímetros a mais de mulher. Saía leve, ao seu tempo. Era levada pelo vento. Seguia meio dormindo, meio acordada. Sonhava que o sol sempre esteve a pino, que as poças eram coloridas, que todo dia era belo e que toda a manhã era um seguir por dentro de seu sonho. Não, nunca acordava.

2 comentários:

Carou disse...

Lindos demais! Leve e gostoso de ler, um texto delicado!

Confesso que as primeiras linhas fizeram com que eu me imaginasse na cena ahahah deu sono!

Parabéns!
Adorei, muié! :)

Anônimo disse...

Que delícia!!=)

bem leeeeeeeve!!

beijos