sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Escreve, vomita, distorce

Quando falta tempo, Maria escreve igual uma doida. Não quer saber de pontuação nem de ordem direta, escreve para se dizer escritora. Não tem nada para narrar, sua relevância é nula – e de seus textos é negativa. Mas tem prazer ao ver que conseguiu juntar as palavras que sabe e ao final poder ler, reler e repassar tudo o que não sabe. Maria não é besta. Gosta de narrar o que vê – e o que vê é tão sem graça... Uma sala, dez computadores, planilhas, contas, contatos, recados, ar condicionado e uma janela. Ah! A janela. Sempre há janelas em contos, ela parece querer te lembrar que sua vida em uma sala será sempre um saco. Não importa o que rola entre as quatro paredes – se rolar ao ar livre será sempre melhor – a não ser que no trancado haja palco. Lá fora há mundo, há vida, há algo que lembra liberdade. O vento no cabelo, daquele que levanta a saia e deixa Maria sempre sem graça – que graça. Esta sim! Vale a pena ver e admirar. Apesar de sempre fechada, por de trás de seus vidros escuros Maria enxerga um sol – que quando nasce parece mil; algumas árvores – que quando chove parecem voar; e claro: vê muros, prédios, trânsito... Mas estes Maria finge que não vê. E é menina tão dispersa que vive buscando o que narrar. Nessa vontade de escrever, ela vomita suas vontades, distorce toda a verdade e – em um átimo, lembra que tem que voltar à trabalhar...

3 comentários:

Nathalia disse...

Há mesmo vida neste lá. E há mato, mar e vento. Sei também que este lá habita o íntimo de Maria. E em suas revisitas a si mesma, acaba por vezes encontrando aquilo que, em sua ingenuidade, acredita estar pra lá de longe dela. Acorda, Maria.

garfo sem dentes disse...

"ah, as janelas, ..."
sou louco por janelas,
elas seriam janelas da alma
se tudo lá fora não fosse assim,
tão real.
eu viajo olhando por elas.

um bj
do Felipe Godoy.

Gabriel disse...

Penso muito em Clarice quando leio coisas assim. Estamos imersos, completamente absorvidos pelo cotidiano estabelecido para uma "vida normal e estável". E às vezes há a epifania, a percepção (que soa até como estranha à realidade) de que somos muito mais do que isso.

De qualquer forma, é bom ler isso. Nos deixa preocupados e atentos. Necessário...

beijos!