terça-feira, 17 de março de 2009

Aprendeu

Era no tempo da delicadeza. Flutuava pelas horas, como se nada houvesse, nada prendesse. Era tempo de quintal. Jogava água e bola. Fingia ser de tudo. Era amiga do rei! Talvez fosse a mulher, mas de inocente não sabia. Gostava de sorvete. Dessa infância mágica carregava tudo o que via, não queria perder nada, porque mesmo nada era só alegria. Desde tempos aprendeu a sentir. Sentia raiva da fome. Preguiça do sono - do banho. Sentia amor pelos irmãos - que eram os mesmos que odiava tantas vezes... sem saber, aprendeu assim o equilíbrio do amor. Sentia dor por chutar o pé no chão. Sentia dor quando gargalhava de alegria, descobriu assim que tudo doía, bem lá! E assim cresceu. Carregando tudo o que aparecia, e sentindo tudo lá dentro, como se tudo que sentisse fosse sempre urgente, sempre útil e necessário. Encheu uma caixa, só de sonhos e sentimentos. Sentiu tanto, que na era da dureza, não consegue não sentir... e sente saudades, que muitas vezes misturam arrependimentos... e sente também aquelas vontades duras de chorar tudo, esquecer tudo e nunca se virar para trás... ah, se fosse fácil. Descobriu que não dá. Agora espera por uma nova época, futura que o vento vem trazendo, onde vai entender o que aprendeu por tanto moer-se.

3 comentários:

Anônimo disse...

E assim, aprende-se que a vida é assim mesmo...ora boa, ora nem tanto...porém, aprende-se que a vida é especialmente convidativa justamente por ela ser como ela é ou seja, imprevisível e repleta de surpresas!
O que fazemos então??!
Seguimos em frente com o coração e a mente, com a fé e a coragem de simplesmente irmos adiante porque o sol se põe e logo em seguida, a lua aparece...linda,encantadora e poética. E ao adormecer aos que a enaltecem, ela deixa no coração o sonho... que nos mantem vivos!
Beijos querida! Amei seu texto!
Lucila Lopes

Anônimo disse...

Um quê de Chico no seu texto. Deu até uma nostalgia dos tempos passados. Sou mesmo um relicário!

Anônimo disse...

é tanto sentir que transborda, e essa é sempre uma ótima opção.

Li há pouco um texto sobre a indiferença, e nada me assusta mais do que esta. Em compensação, ao perseguir a intensidade, estamos mais sujeitos ao céu e ao precípicio, cabe a nós assumir o risco - e a julgar pela sua descrição, parece-me que fez a escolha mais coerente com o que sente e quer.

Que bom!

beijos!